sábado, 22 de outubro de 2011

O Tempo Engatinha


Lembranças de nossa infância, vão e vem.
São como nuvens em um dia de sol.
Acompanhamos o “rodeio” delas, às nuvens desenham em nosso olhos, cavalos, casas, lembranças e todas esperanças.
Lembro – me quando ao voltar da aula de matemática, eu com meus 09 anos de idade, sem preocupações com o futuro, sem contas à pagar, sem pensar em constituir família, apenas com o carinho de meu lápis e meu caderno de anotações. Ficava, “namorando” o dia. Sentado na grama da casa de meus avós, esperando qualquer movimento, ou qualquer aborrecimento  por eu estar sentado ali.

Dona Maria, minha vó, cuidava com zelo de suas rosas. Eu subia no muro e ficava a admirar ela, com um regador, uma tesoura e adubo – ali ficava – Sr. Alfredo passava todas às tardes na rua em uma carroça, o cavalo magro puxando e o seu Alfredo ali. Parava a carroça, olhava para minha vó, e à fitava: - “ Boa tarde Dona Maria, suas rosas estão cada dia mais lindas, assim como as quem cuida delas. “
Todo o dia, eu ali balançando às pernas em cima do muro, pensando a hora em que meu avô iria abrir a porta da frente, e pegar o “carroceiro” com a boca da botija, elogiando minha vó. Aí sim, teria algo mais emocionante para escrever em meu caderno de anotações, do que o movimento das nuvens.
Lembrei também do José, ou Zé do Marmelo, como nós os guris chamávamos o nosso amigo, que sempre no mesmo horário, corria para dentro de casa, pois, sua mãe Dona Rosário,subia a rua com uma “vara de marmelo” e bradava: “ Tu quer ficar jogando bolita na rua? Tu não é maloqueiro, vai ver o que te espera “

Sempre escrevia em meu caderno de anotações à noite, as piores coisas que poderiam ter acontecido com o Zé do Marmelo, lembro – me, que antes de terminar os nossos jogos de bolita diários, todos nós os jogadores, íamos até o portão da casa do Zé do Marmelo, tentando escutar algum sussurro, ou mesmo, algum grito de socorro, mas nada! Nenhum barulho. Apenas uma corrente no portão. E o Zé lá, entre as frestas da janela, a nos cuidar.
Cai à noite! Minha irmã, deita – se ao meu lado no sofá da sala, limita – se o perímetro para os meus pais também sentarem. “Cheiro das panelas”  na cozinha, sambam pela casa... logo me recolho, pego às bolitas, guardo -as na cômoda ao lado da cama. Minha irmã, arruma a mesa para o jantar. Ao fundo: “ ótima refeição” – meu pai desejando à todos nós na mesa.
Ritual de criança, levantar – se da cadeira, após o jantar, ir direto para o banheiro, escovar os dentes e cama!
Pego meu caderno de anotações e escrevo;  “ Por favor Deus ajude o Zé , para que Dona Rosário não bata nele com o marmelo”.
Porque escrevi isto?
Hoje, abri a janela da frente de minha casa, e quem eu vejo?
Ele, o Zé do Marmelo!
Mas hoje como José Carlos, professor de Biologia, sentado na grama de sua casa, a brincar com seu filhos gêmeos. Jogando bolita, nome de seus filhos: André Luiz e Jose Carlos Júnior.

Na mesma hora, retornei ao meu quarto, abri as portas do armário, “entrei” nele, e encontrei algo mágico, minha caixa verde, com todas minhas bolitas da infância. Então, atravesso a rua, vou até José Carlos e assim dividi às bolitas entre André e José.
Naquele instante, tenho certeza que o Zé do Marmelo ali com os gêmeos, lembrou de todos os nossos “jogos amadores” .
Ao anoitecer, quando fui fechar a janela, vejo Zé do Marmelo lá, na varanda de casa, com um lápis e um caderno de anotações.  Deve também ter recordado a sua infância.

Por: André Luiz Siegle Fraga / fragaandre.blogspot.com/



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